segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O que dizer da (in)tolerância?

Essa exposição apresenta os resultados de pesquisas desenvolvidas na disciplina História das Religiões no Brasil e no Rio Grande do Norte, no semestre letivo 2010.1.

Durante dois semestres sequenciados foram apresentados como trabalhos finais o levantamento do “Panorama das Religiões no Brasil”, pesquisa que visava trazer para a discussão os dados relativos à presença e participação estatística das religiões, seus fiéis e práticas no cenário nacional.

Em 2010, o tema escolhido para guiar a reflexão e os debates foi a tolerância e intolerância religiosa, uma vez que essas posturas mobilizam agentes, valores, práticas e atitudes que definem, no âmbito das relações sociais, os cenários históricos e políticos das religiões, seja no Brasil, seja no mundo.

A intolerância religiosa se caracteriza de forma mais evidente por perseguições e privações impetradas por um grupo em relação a outro, cujas razões impositivas têm no território da alteridade a base das divergências religiosas. Essas posturas de intransigência, embora revelem a exasperação da dissensão, pelo choque de visões de mundo e pelas conseqüentes éticas que lhe acompanham, traduzem na verdade aspectos que estão além do ordenamento religioso.

Os processos que conduzem ao enfrentamento de segmentos religiosos sempre estão acompanhados de pormenores políticos, sociais e econômicos que se não definem em primeira instância os reais interesses disputados no conflito, pelo menos exercem um relevante poder de influência. Dessa maneira, é impossível compreender na História das Religiões o que significam os episódios de intolerância religiosa sem considerar os aspectos antropológicos e sociológicos que participam da constituição destes cenários de conflito.

Importante ainda é destacar que se a intolerância torna-se mais visível nos momentos em que a violência física aparece ou quando nitidamente são instituídas sanções e restrições que se aplicam em relação a um grupo específico, ela não é exclusiva a essas conjunturas. Isso porque a intolerância se produz enquanto processo fomentado primeiramente no plano simbólico, quando são plantadas nas idéias e, consequentemente, nas relações sociais as sementes da distinção. Assim, a intolerância não nasce repentinamente, tampouco se apresenta como uma atitude individualizada. Ela é um fenômeno eminentemente coletivo, portanto, social. Por outro lado, a intolerância é um sentimento vivido e sentido no cotidiano, ainda que tenha repercussões mais densas nos momentos de crise das estruturas sociais, quando seus produtos explodem na forma dos conflitos religiosos.

Em relação à essa experiência ordinária das religiões, existe uma tendência bastante atual nos estudos historiográficos que vem buscando compreender as realidades históricas a partir das micro-relações em oposição à macro-história, aquela dos grandes acontecimentos e de suas vultosas personalidades. Nesse sentido, se por um lado estudos históricos recentes vem descobrindo a partir do novo enfoque metodológico as fisionomias microscópicas e cotidianas da intolerância, por outro também fica mais claro perceber que unilateralidade e intransigência não são qualidades absolutas nas relações sociais.

Os encontros entre diferentes culturas ou a convivência de segmentos sociais distintos mais cedo ou mais tarde são implicados em trânsitos, linguagens e práticas que redimensionam na experiência os projetos de imposição originais. Inevitavelmente, portanto, emergem acordos, alianças, concessões, barganhas, permissões, ou melhor, formas de tolerância, as quais tornam-se estratégicas para as relações de convivência. Em poucas palavras, a tolerância torna-se também uma das faces da intolerância.

A História das Religiões no Brasil foi marcada por esses movimentos, tolerância e intolerância se intercalaram nas relações que condensaram as bases religiosas desta nação. Desde o princípio, o Novo Mundo colonial foi marcado pelo selo da imposição de um credo que embora tenha destinado muitas energias nesse propósito nunca conseguiu instituir-se hegemônico, uma vez que suas intenções foram minadas pelas resistências subterrâneas de outras matrizes religiosas articuladas no processo.

Passados mais de cinco séculos, o Brasil ensaia a experiência de uma nação democrática que coloca ao lado do princípio da laicidade do Estado a garantia jurídica da pluralidade e liberdade religiosas, expectativas amparadas legalmente pela Carta Magna da República. Não obstante os preceitos normativos, no território das práticas, embora não existam conflitos religiosos de maior magnitude como aqueles que envolvem civis em muitos países pelo mundo afora, o Brasil não está livre da intolerância religiosa. Fundamentalismos, extremismos, intransigência, alienação são alguns exemplos de atitudes e posicionamentos que vem sendo alimentados no campo religioso brasileiro e que podem conduzir a relações pouco promissoras do ponto de vista da consolidação de uma democracia efetiva. Assim, para que não caminhemos em direção ao conflito, mas sim no sentido do diálogo, é necessário antes de mais nada aprender a respeitar o outro, reconhecendo na diferença um valor e não um inimigo.

Os trabalhos aqui expostos, portanto, procurarão apresentar episódios e cenários no Brasil de ontem e de hoje que refletem a problemática da (in)tolerância religiosa como um fenômeno de origens e conseqüências sociais, políticas e econômicas. A intenção, enfim, é a de poder mostrar a religião como fonte que tanto pode servir ao diálogo como ao conflito.

3 comentários:

  1. Ótima iniciativa , já tá na minha lista de blog agora! kkkkk

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  2. Caríssima,

    Já sou seguidora também! Parabéns pelo trabalho com os alunos e pelo texto! Abraço

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  3. Ótima iniciativa , já tá na minha lista de blog agora [2]

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